quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Ainda tenho o teu cheiro em mim, não há água que consiga que lavá-lo da minha alma, apagá-lo da minha memória. Invades-me o sono tranquilo com essas tuas mãos rudes e brutas e fazes-me acordar sobressaltada; assaltas-me o pensamento e roubas-me o sorriso.
Não me lembro da tua voz, mas recordo-me de como me rasgaste a roupa, o coração e o orgulho. Ainda sinto a tua barba salgada a arranhar-me o pescoço, a incomodar-me, a matar-me. Quis morrer para te apagar de mim, para eliminar todos os vestígios da tua presença no meu corpo e da tatuagem que fizeste no meu coração inocente. Dás-me nojo e vomito a alma vezes sem conta, mas sem nunca conseguir expelir aquela tarde do meu âmago, sem nunca te conseguir arrancar das minhas entranhas. Não consigo esquecer os ramos que quebravam nas minhas costas, a terra molhada que se colava às minhas coxas e o teu hálito pesado na minha clavícula, balbuciando palavras incompressíveis e alteradas pelo álcool. Não esqueço as lágrimas que me queimavam as faces, mas que não eram suficientes para te comoverem, os gritos que ninguém conseguia ouvir – abafados pela tua mão na minha boca – o teu peso sobre o meu corpo, o peso dos teus actos para sempre sobre a minha vida. A raiva, o pânico, o desespero.
Violaste-me a alma, roubaste-me a inocência e eu não consigo ignorá-lo. Ainda respiro, mas não tenho dúvidas que assassinaste parte de mim. 

2 comentários:

Vanessa Kiekeben disse...

lindíssimo. Sem dúvida um dos melhores textos que li ultimamente! <3

carina disse...

oh que nem tenho palavras para descrever isto. sublime